Ele percebeu. Em pouco tempo.
Não se pode confiar na esperança que depositamos nos outros. Não se deve acreditar no delírio de que os bons afetos produzem relacionamentos maduros. A lógica funcional do mundo opera como uma grande e imperadora máquina. Tritura-se bons afetos, caminhos, esperanças, sonhos, inocência e carências. Na engrenagem: muito ódio, idiotice, burrice, ressentimento, inveja, recalque e religião.

No desespero de atenuar a dor de existir, abrimos portas de labirintos. A pressa pressionada pelo relógio da máquina, produz a falta de presença. Estamos realmente perto uns dos outros? Ou os nossos olhos estão voltados para uma anti-política do pensamento? Estamos nos escondendo da pior verdade sobre nós mesmos?

Uma voz, um anseio, um choro, um corpo, um travesseiro.
Qual foi a última vez que você sentiu que estava sendo verdadeiro?
Ou tudo não passa de um grande e perturbador pesadelo?

Anúncios, propagandas ideológicas e publicidades do regime capitalista nos intimidam e nos condenam a não pensar. Quem pensa fica triste. E quem quer morrer de tristeza?

Morrer sendo títere nos dá mais prazer. A ilusão é a nossa maior arma contra a memória que nos sempre apavora. A mentira vende porque adula. Ser docilizado e imbecilizado é um dever que nos manda o sistema. No mais absoluto castigo de pensar, somos todos retardados acreditando sermos livres enquanto defendemos ideologias de soldados. Autonomia não vende.

A verdade nocauteia ‘a boca do estômago’ e pelo âmago vomitamos pelo nariz. Sangramos pelos olhos tão vidrados em não ver. Todos estão condenados a prostituições de ideias, sensações e pensamentos. Todos estão sendo investigados para se adequar a programação dos corpos enquanto as corporações faturam em cima do nosso silêncio e sofrimento. A inação é uma ordem desta organização de máscaras que nos deformam e nos perfuram os peitos.

Ele percebeu tudo isto.
Tarde demais?