Já faz tanto tempo
Que eu estou aqui
Tentando contar os pedaços do meu coração
Mas me lembro que ele se foi
E que já não está comigo.
Ele está sangrando em suas mãos.
Ouvindo o gorjear dos pássaros
Que voam livremente no céu azul
Límpido e cheio de nuvens de algodão
Eu sinto o vento me abraçar
Me dando uma ilusão
De que em algum lugar eu realmente existo
E quem sabe,
Eu não encontre mais dor
E não precise mais chorar
Todas as noites antes de me deitar.
Eu olho para o mar
Azul como a cor dos meus olhos
Cheios de sonhos destruídos
A naufragar.
A realidade é um castigo.
E nessa sensação de morte
Nenhum amparo ampara
Nenhuma palavra descreve
Tudo o que eu sinto
A miséria de ser asfixiado e enterrado vivo.
E já faz tanto tempo
Que estou tentando encontrar
A paz que você levou de mim
Para algum lugar escuro e frio
E eu já não posso mais acordar
Deste pesadelo que é sorrir sem desejo
De caminhar pela estrada sem caminho
Sem nenhum horizonte para alcançar.
A brisa congelante vem me tocar
E suas pequenas gotas geladas
Percorrem o meu melancólico espírito
Cansado de lutar e insistir
Em encontrar algum abrigo
Neste mundo congelado por plásticas
E sentimentos frios.
O seu rosto vem junto com as ondas
Que quebram em meus pés
E voltam para o seu lugar.
De alguma forma
Elas são você
Mas você não volta.
Você veio
Fez morada em meu colo
Mas se foi sem dizer adeus
Sem dizer se eu poderia te esperar.
Minha decepção é pesada
Como as minhas lágrimas salgadas
Que compõem gota a gota este lindo oceano
Cheios de dor, mágoas e traumas.
Se lembra de quando você me pediu em casamento?
Perguntando na areia em forma de coração
Se você podia entrar em minha vida para sempre
E se fazer presente até nos momentos mais sombrios
Sendo a minha sagrada canção de ninar
Todas as noites
Antes da minha eterna solidão chegar?
Eu só não quero mais esperar
A noite chegar e cair sobre mim
Derramando tristeza e desesperança
Trazendo a saudade intermitente
De uma vida que não existe mais
E que eu tenho que apagar.
Eu só não quero me encobrir de medo
Ouvindo todos os meus fantasmas gritarem
Demônios de um tempo passado
Que me assaltam a memória
Me roubando de mim mesmo.
Eu me aproximo do mar
E num instante eu percebo
A minha dor é imensa como o oceano
E eu estou só nesse redemoinho
De promessas de amor eterno
De nenhum fragmento de vida
Vivido mais a só.
Então eu molho os meus pés
E sinto o frio da água congelando os meus dedos
E por um instante eu resolvo jogar
Todos os momentos que me fizeram feliz
Às profundas mais escuras do mar.
Espero que leve embora também
Todo o amor que eu senti
Que me fazia viver ardendo em chamas
Me aquecendo no meu inverno crônico
Esvaecendo todos os meus medos.
E que as ondas levem e não tragam
Mais nenhuma lembrança de nós
Que o passado seja enterrado
Como estou sendo agora.
Enquanto eu sou feito de pedra
A minha última lágrima espera e agüenta
E sufocada para não demonstrar mais fraqueza
Ela quer gritar para o mundo
Que viver, sonhar e amar
São coisas de pessoas de outro tempo
E que o que restou aqui foi só rancor
Inveja e ressentimento.
Não há mais nada para se esperar.
O adeus é iminente
Enquanto a desgraça toma todo o lugar.
Petrificado então
Eu dou adeus à vida vazia e descartável
E para sempre me torno
Uma estátua cheia de vida pulsando nas veias
Cheia de amor e cuidado para dar
Mas que vieram numa era errada
E para me proteger do gelo
Que se tornaram os nossos sentimentos
Eu solto a minha última lágrima
E espero eternamente a era do amor chegar.