Daqui do meu peito
Dos meus sonhos
Dos meus desejos insanos
Não cabe tudo o que vejo.

Daqui do meu medo
Deste momento assombroso pela memória do passado
O mundo gira rapidamente em torno de sangue de inocentes
Nesse dia que se faz presente, dolorosamente,
Em minha mente.

Daqui do meu quarto
Nesse canto que é só meu e que ninguém pode entrar
Eu caio nesse abismo de dor e desespero
E me perco em meus delírios e devaneios.

Neste quarto escuro e solitário
Há um menino agachado
Imobilizado pelos seus traumas de infância
Que jamais cessou em seu espírito
E o seu descanso jamais veio.

Esse menino sofre silenciosamente
Sofre tudo.
E calado.

Daqui de onde eu sinto toda a dor de existir
Eu busco alguma razão para toda essa maldade
Que anda calmamente sem fazer alarde
Matando tanta gente boa e honesta
Em benefício de mentiras covardes.

Daqui da janela do meu quarto
Eu vejo o dia morrendo em pressa, medos e anseios
De uma felicidade que não existe e nunca existirá
Enquanto insistimos em nos vestir como os manequins de shoppings
Enquanto formos iludidos por publicidade e propaganda
Como se a vida fosse uma oferta de um e noventa e nove.

Daqui do meu quarto
Eu vejo que a morte é um mistério
E a vida e a dor de cada um é um segredo guardado por completo
Porque temos que sorrir o tempo todo,
E mostrar aos quatros cantos que somos alegres
Como máquinas programadas para iludir nosso próprio, frágil e fraco ego.

Daqui do meu silêncio
Onde a voz não diz tudo o que quer
Onde a obrigação nos mata diariamente
Onde o grito se abafa
Aonde a alma sobrecarregada do trabalhador quer mais
Ela quer justiça, quer paz.

Então seguimos como robôs de semblantes pesados
Descarregando toda a mágoa, injúria e injustiça nos filhos
Que se perdem num mundo perdido cheio de conflitos intensos
Onde todo o sofrimento se transforma em dinheiro
Pro homem que anda de jatinho com o seu belo terno caro e sua combinada gravata.

Então na arte o menino encontra o seu refúgio e sua liberdade
Onde o caos encontra alguma ordem
Onde a luz não chega com a sua escuridão
Onde o descaso encontra alguma razão
Então ele chega em casa acreditando que ainda há uma solução.
(Há uma solução…)

Mas no meio do caminho
Há tantas pedras que nos fazem cair, tropeçar e que nos faz tanto sangrar
Que esse menino fecha-se em seu quarto
Com medo de ser percebido
Ele só quer chorar escondido
Para ter força e seguir o seu destino com alguma fé e otimismo
Sem flutuar muito alto do chão,
E de alguma forma manter a beleza da vida diante da realidade cruel
E voltar a acreditar no seu mundo perfeito de ilusão.

Ah menino,
Você é a minha salvação…

 

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